Marcelo Jeneci no Memorial da América Latina
A banda já está no palco. Estão passando o som. Com pouco mais de 20
minutos de atraso, Marcelo Jeneci vai até o microfone e pede desculpas: “a chuva zoou o
palco”, diz ele, que demoraria pouco mais para começar o show. Coisa pouca. E o
que não foi pouco ali, foi o respeito dele com o público.
O show começa, não reconheço as três primeiras canções. Certamente estão
em seu mais recente álbum “De Graça”. Mas, eu mal me preocupo em saber. O que
eu queria mesmo era sentir o que a nova fase de Jeneci, traduzida em canções,
era capaz de despertar ao vivo. Ouvi dizer que foi fruto de uma separação.
Coisa triste, não?! Mas, o que não é nem um pouquinho triste, é esse talento de
conversão. Do sofrimento à poesia. Pensando bem, a dor não é feia, mas é
incrível como pode se tornar plenamente bela:
“Então vamos ali no seu quintal plantar um pé de nós dois” (Sorriso Madeira)
“Um de nós, vai sentir a falta de um de nós” (Um de Nós)
"Nosso contorno desenha uma vontade" (Nada a Ver)
E como essas frases ressoariam em você? Depende tanto do seu momento,
não é mesmo? Mas, também depende da voz que elas têm e quais melodias a
embalam. No show de Jeneci, vi crianças dançando, tão levemente, que pareciam
simular movimentos de borboletas. Um casal rodopiava. Um homem criava
coreografias e dançava sozinho. Descalçou até os sapatos. Casais como nós (eu e ela), em
gêneros, abraçavam-se livremente e sussurravam junto com Jeneci e sua paceira
Laura Lavieri, as letras que enchiam a pça do Memorial com uma energia repleta
de amor. Ah, não dá para deixar de citar as imagens reproduzidas nos dois
telões posicionados nas extremidades do palco. Elas nos levavam ainda mais para
aquela dimensão que o som já nos conduzia. Sensações, das boas.
A imagem faz parte da arte do álbum, que remete ao verão na praia, o outono em São Paulo e o inverno de gravação. Um pouco do que se via nos telões. |
Em quase duas horas de show, além das músicas do novo CD que têm uma
sonoridade eletrônica incrível, Jeneci relembrou canções como Felicidade e
Feito Pra Acabar, do álbum anterior. Foi um tiro mais do que certeiro, o Memorial
da América Latina ter convidado Marcelo Jeneci para encerrar as atividades
musicais de seus 25 anos. O melhor da vida, realmente nos veio de graça… Numa
terça-feira à noite, de março, que até as águas deram uma trégua para ouvir
Jeneci cantar.
*Ouça De Graça aqui.
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