Feliciano também não representa Maradona e Caniggia |
Ainda citando porcamente o documento máximo do que deveria ser a democracia no Brasil [chora na cama e engraxe seu coturno com suas lágrimas, Bolsonaro], todos os indivíduos têm direitos iguais, sem distinção alguma. Ou seja, o discurso religioso e sexualmente intolerante do dito-cujo citado na nareba de cera deste pseudo-texto não representa sequer a essência democrática. Isso não quer dizer que todos tenham de concordar com um único conceito - foi mals aí por falar novamente sobre a Constituição, mas esse documento de normas de conduta, comportamento e a porra toda prega a liberdade de expressão. Mas ridicularizar e reduzir a opinião alheia ao absurdo, com base apenas em julgamento de valor dúbio, para não dizer outra coisa, não rola. Podem ficar tranquilos, pois não entrarei em tratados sobre direitos humanos e afins - por ora, pelo menos.
Sou corintiano, maloqueiro, sofredor, heterossexual, aprendiz de jornalista e, acima de tudo, ser humano. Além de Feliciano, muita coisa não me representa. Alessandro e Júlio César, lateral-direito e goleiro do Corinthians, não me representam [obs: nada contra as pessoas dos dois, mas dá calafrios vê-los em campo]. Marin, filhote da ditadura presidente da CBF, idem. Best sellers esdrúxulos, produtos da indústria cultural e o discurso pseudo-cult com intelecto de bar também. Frases feitas, clichês, roubalheiras, privatarias, mensalões e brigas na Libertadores não me representam, é claro.
Por outro, Chico Buarque, Tite, The Strokes [apesar dos últimos trabalhos], Quentin Tarantino, Gus Van Sant, Vladimir Herzog, Julian Assange, Martin Luther King, entre outros, me representam. Caetano Veloso, apesar de também ser falastrão e merecer ouvir algumas verdades do Adenor, idem. Repito: isso aqui não se trata de julgamento de valor religioso, a começar que a prática religiosa e a liberdade de culto são direitos invioláveis de todo e qualquer indivíduo.
Sem mais delongas e enrolação, a homofobia semidoentia de Feliciano o fez esquecer de que muitas das pessoas tidas como ~amaldiçoadas~ por ele e pelas felicianetes tornaram o mundo da música muito melhor. Exemplos não faltam e vamos a alguns deles, mesmo que em pílulas - até porque posts extensos demais enchem demais o saco:
* Elton John pode ser meio metido a estrela e não exatamente o cara mais sociável do mundo, mas já embalou trilhas sonoras de muitos casais por aí. Assume aí, Feliciano: você tentou dar ideia em algumas gurias ao som de Rocket Man, não negue.
* Robert Halford, frontman do Judas Priest, fez muita gente respeitar o metal. Mas o cara quebrou as regras do machismo "do mal" [sem trocadilhos] e saiu do armário. Não é pela orientação sexual que o cara tenha perdido o respeito, sejamos francos. E outra: tem de ser muito macho para sair do armário, na moral.
* Cássia Eller representou muita gente - inclusive a mim - na adolescência e, claro, continua a fazê-lo, mesmo após ter ido ao além. Seguramente, ela teria mandado algumas boas verdades a Feliciano se estivesse viva.
*Farrokh Bulsara. Bom, talvez nem a população equivalente à torcida do Quissamã (RJ) o conheça pelo nome. Tá, vamos simplificar um pouco as coisas: vocês manjam Freddie Mercury, né? Então, nenhum adjetivo consegue definir o que o cara foi para o Queen e para a música. E pouca gente fez uma música para anunciar que saiu do armário tão foda quanto ele e a lendária banda, não? Nothing really matters, got it?
* Ney Matogrosso: não, o Secos & Molhados, banda da qual ele foi frontman, não serviu como inspiração/plágio para o Kiss. E essa lenda urbana já era, certo? Mesmo assim, o talento do tio é incontestável. Ah, são poucos os caras que conseguem manter o pique e a competência praticamente após quarenta anos de vida artística - no mainstream, pelo menos. Além de Matogrosso, só David Bowie, tio Macca e os decanos do Rolling Stones que podem se vangloriar disso.
Se for ficar enumerando todos(as) aqueles(as) que têm orientação sexual alheia ao que o senso comum prega, este post seria ao melhor estilo A História Sem Fim. É estranho deixar Cazuza, Renato Russo e muitos outros sem citações dignas de nota, mas o objetivo foi mostrar alguns dos jedis da história. Como diziam os caras dos Mamonas [que, Feliciano, não foram mortos por Deus], abra sua mente.
Mau.
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