sexta-feira, 1 de março de 2013

Jards Macalé, quem é?!


Vinicius e Jards Macalé

“Um personagem quase único na música brasileira. Um maldito, diz um desses críticos musicais instalados nos jornais. Um subversor, diz outro. E mais um outro ainda arremata: só não é único porque entre os gênios do Brasil existe Noel Rosa e Tom Zé”. Estas foram as palavras de Antônio Abujamra, apresentador do programa Provocações, da TV Cultura, na abertura de sua entrevista com o músico Jards Macalé, que no domingo (3) completará 70 anos. E, para comemorar as sete décadas, o carioca festejará com os paulistanos, em uma apresentação com entrada franca, no auditório do Ibirapuera, no dia 10, às 19h. A festa começa às 17h com a exibição do filme Jards, dirigido por Eryck Rocha, filho de Glauber Rocha [os ingressos serão distribuídos uma hora e meia antes da exibição do filme].

Jards Macalé – 1971. (David Drew Zingg)
Jards Anet da Silva é carioca da Tijuca, onde cresceu ouvindo os batuques do morro e foi influenciado pelo jazz, seresta e pelo samba-canção. Isso, sem contar que em casa, ouvia os  valsas e modinhas tocadas no piano pela mãe e no acordeom, pelo pai. Jards estudou piano, orquestração, violoncelo, análise musical e violão com eruditos. Além disso, trabalhou como copista de seu vizinho, o maestro Severino Araújo, que foi regente por quase 70 anos da Orquestra Tabajara. Quanto ao sobrenome Macalé, Jards ganhou de colegas em peladas, em “homenagem” ao pior jogador do Botafogo, na época.

A primeira vez em que ouvi falar em Jards Macalé foi no livro Tropicália – Um Caldeirão Cultural, o qual costumo considerar uma bíblia da música popular brasileira. Ele era citado como um dos integrantes do Grupo Opinião, onde Macalé começou a carreira profissional como violonista no grupo. O Opinião era um grupo de teatro de protesto e de resistência, além de centro de estudos e difusão da dramaturgia nacional e popular.

Assim como Jorge Mautner, Jards era considerado maldito pela crítica por ser um músico incompreendido e avançado para a sua época. Prova disso, é a maioria de nós conhecer e curtir à beça a música “Vapor Barato” na voz de Falcão, de O Rappa.
 O que mostra que a música é atual.

A canção é assinada por Jards e seu parceiro Waly Salomão em 1972. Vapor Barato é o maior sucesso de Jards, eternizado por Gal, no antológico Fa-tal – Gal a Todo Vapor (1971), LD duplo do show homônimo. Antes disso, Macalé fez a direção musical do disco Legal (1970) de Gal, um dos mais importantes de sua carreira e, em 72, assinou a direção do disco de outro baiano, Transa, de Caetano Veloso, que para muitos é considerado seu melhor disco.



Além de parcerias com Caetano, Gilberto Gil e Waly Salomão, outros nomes como Torquato Neto, Vinicius de Moraes e Glauber Rocha fizeram parte da lista. Macalé também fez trilhas sonoras para os filmes Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade e para O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, de Glauber. Jards bebeu da água de vários cenários por onde deixou um pouco de si, seja no cinema, teatro, artes plásticas ou televisão. Por todas elas a música o permitiu deixar sua colaboração.  

Em seu mais recente trabalho, a coletânea Jards (2011),  há participações especiais de Frejat e Luis Melodia. “A canção se equilibra sobre acidentes rítmicos fazendo estender sua melodia a fim de manter sua integridade. Estrutura semelhante, mas ainda mais radical, se repete em Let's Play That (Jards Macalé/Torquato Neto). A canção é desconstruída a ponto de, no fim, não reconhecermos mais sua forma original. O disco é organizado por esse movimento de concentração e dispersão, alternando-se entre euforia e contenção. Comportamento parecido com Transa. Mas se ali as mudanças de intenção são comandadas pela letra e pelas citações de Caetano, no disco de Macalé seu violão é que guia essas oscilações”, escreveu o cantor e compositor Rômulo Fróes no Estadão.    

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Até a próxima.
Beijos,
Elís Lucas


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