sábado, 30 de março de 2013

WEEKLY TWEETS #1


Todo mundo sabe que o Twitter é aquela rede social na qual as mensagens postadas pelos usuários, em formato drops e com limite de 140 toques, é uma espécie de muro de lamentações de quem tem um profile por aquelas bandas - chega a ser até mais deprimente em alguns momentos do que o Facebook, acreditem. Mesmo assim, há alguns lapsos de genialidade e uma ou outra boa sacada na timeline do ~tuinto~, normalmente por alguma mente um pouco mais iluminada ou alguma arroba que realmente valha a pena seguir.

Toda essa enrolação acima foi para dizer que, a partir desta semana, o Visical terá uma seção fixa com destaque a alguns tweets que, dentro da realidade musical - em alguns momentos, caso haja algum motivo especial, relativas a outros assuntos -, serão destacados por aqui. Como este fim de semana está marcado pelo Lollapaloser Lollapalooza, há alguns tweets dedicados ao mega festival. Também merecem menções honrosas Xuxa e Tarantino, que assopraram 50 velas no mesmo dia, o estupro musical a Psycho Killer, do Talking Heads, e [noooooffffaaaaa!!!!] Feliciano.

Espero que curtam. Ou melhor, acho que vocês não fazem mais do que a obrigação, saca?


Pearl Jam (@PearlJam): Brasil! Pearl Jam está a caminho... @LollapaloozaBr #LollaBr #PJSA2013

Indie da Deprê (@indiedadepre): O indie sertanejo finalmente aconteceu.

Patrick Carney (@patrickcarney): I am brazilian now! RT @maribeiro_: @patrickcarney Are u ready to Brazil?

Arthur Chrispin (@achrispin): Brandon Flowers falando português e se esforçando pra ser de casa. Daqui a pouco canta "Evidências".

Márvio dos Anjos (@marvio): Quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo Mirassol.

Caio Turbiani (@caioturbiani): - Como vou te achar no Lollapaloza [sic]?
- Sou o de camisa xadrez com óculos de aro grosso e um iPhone preto na mão.

Estadão (@estadao): Chico Buarque entra na frente contra Feliciano: 'Assino qualquer lista pela saída deste deputado'.

Marcelo N (@neozeitgeist): Xuxa e Tarantino fazem 50 anos hoje. O que isso significa para muitos brasileiros? 100 anos de sexo e violência nas telas.

Alex Kapranos (@alexkapranos): Olá Brasil

Marcelo Costa (@screamyell): Cacique Cobra Coral, por favor, nos ajude"... [em alusão aos serviços ~meteorológicos~ da Fundação Cacique Cobra Coral e ao Lollapalooza]


OBS: estamos na twittosfera, caso interesse a alguém. Caso sim, a arroba é @visical_blog.


Beijundas,

Mau.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Não vai para o Lollapalooza?


Barnabé e Tatit, a dupla que
não é uma dupla

Então vá ao Sesc Vila Mariana...

Por quê?! Porque dois importantes nomes da história da música popular brasileira se encontrarão em dois shows por lá, este fim de semana (dias 30 e 31), e o ingresso não vai te custar um rim. São eles Arrigo Barnabé e Luiz Tatit, que apresentam um repertório singular de canções inéditas compostas por ambos. O show, “De nada mais a algo além”, dirigido por Mário Manga, contará ainda com a participação da jovem cantora Lívia Nestrovski nos vocais mais acompanhamento de percussão e sexteto de cordas. 

Sábado, às 21h e domingo, às 18h. Dê um pulinho em um Sesc próximo de sua casa e garanta seu ingresso. O valor varia entre R$ 6 a R$24. Acesse  www.sescsp.org.br/sesc . E, bom show!


ou ao Sesc Belenzinho...


Ver Vanguart, uma das bandas da nova cena musical brasileira, tocar Raul. Isso mesmo, Raul Seixas. A banda talentosa fará releituras do maluco beleza como parte do projeto “Outro Repertório”, iniciativa que resgata obras de compositores significativos na história da música brasileira por meio de artistas contemporâneos. 

Ingressos no mesmo esquema, entre R$6 e R$24. Acesse a rede Sesc www.sescsp.org.br/sesc . É Sábado, dia 30,  às 21h30.

quarta-feira, 27 de março de 2013

TARANTINO 50

Aí, tio, esta arma está descarregada, né?
Nada de trazer a realidade ao
mundo real, tá certo?
Já sei: você leu o título e perguntou por que cazzo raios um blog de música está com um post sobre cinema. Pode causar alguma estranheza, mas o cinema e a música andam de mãos dadas - exceto no cinema mudo, é claro. Ou seja, a música é intrínseca à produção audiovisual. Afinal, por que há premiações para a melhor trilha sonora, não é mesmo?

Enfim, sem mais lenga-lenga e nariz de cera do Nosey, vamos ao que interessa: Quentin Tarantino completa hoje meio século de vida. Sim, um dos caras mais sanguinários do cinema, que já foi o autor intelectual das mais variadas mortes cinematográficas - não acredita? Saca só este infográfico, então -, o mentor de diálogos transcendentais e geniais, além de danças e roteiros de fazer qualquer um repensar sobre o que conhecia sobre o cinema até então chegou aos 50 anos.

Muito já foi dito e será dito com riqueza de detalhes a respeito da vida e obra de Tarantino, mas não dá para negar que ele trabalha por música. Duvida? Deem uma analisada mais cuidadosa nas trilhas sonoras da filmografia do tio. Dá para encontrar muita coisa boa, como David Bowie, Al Green, Ennio Morricone - sim, estou #chatiado porque o tio não colaborará mais com o "queixada" de LA -, um mashup improvável de James Brown com Tupac y otras cositas más.

Não me estenderei muito sobre o fato de ele ter QI fodido muito acima da média, ser autodidata - mais vale uma temporada trampando numa locadora do que um tempo na UCLA, não? - e ter fetiches por pés - agora dá para entender por que Uma Thurman [aaahhhnnnn] se expressava pelos pés?. Tarantino é mais do que um diretor, virou adjetivo de cinema visceral, anárquico e de responsa [haters gonna hate, but whatever].

Sem mais chorumelas, deixo três momentos - ou melhor, dois mais uma homenagem - do tio. O primeiro é o impagável curta Tarantino's Mind, coestrelado por Selton Mello e Seu (Salve!) Jorge. Garanto que estes serão alguns dos 15 minutos mais legais de suas vidas, vão por mim.



Na sequência, o "queixada" manda uma piada ao melhor estilo taberneiro no filme Desperado, de seu brother Robert Rodriguez [não achei legendado. Sorry, guys].



Agora, um dos momentos mais épicos de sua carreira de pontas cinematográficas: a teoria sobre Like a Virgin, de Maddona, em Cães de Aluguel, aka filme com o qual ele chegou com o pé na porta das gravadoras.



BONUS: foi uma pena não encontrá-la legendada, mas aí vai uma entrevista-arquivo confidencial das mais engraçadas, à época do Bafta, em 2010. Vale a pena o clique.

Enfim, foi mal aí pela porquice e espero que curtam este post.

Beijundas,

Mau.

terça-feira, 26 de março de 2013

El Efecto - Rock, xaxado, ópera...


Essa eu conheci bem sem querer. Na semana passada, recebemos um release no e-mail da redação da editora em que trabalho, falando sobre a campanha Quem São os Proprietários do Brasil, projeto que tenta angariar fundos através do Catarse. Como eu já conhecia a plataforma, fui dar uma olhada e foi no vídeo de explicação da campanha que conheci El Efecto, já que o CD Pedras e Sonhos era uma das recompensas dadas para as contribuições acima de R$50.

No vídeo, passa um trechinho da música Um Encontro de Lampião com Eike Batista, tudo a ver com a campanha que tenta descobrir quem são os proprietários do Brasil, não é mesmo?! Pois é, mas não é só o nome da música que é longo não, com 8’23” a canção é a  mais longa do CD Pedras e Sonhos, que foi lançado no ano passado. 

O quinteto em ação
El Efecto foi criada em 2002, no Rio de Janeiro e eu me sinto com um puta atraso musical por só conhecer o trabalho dos caras agora. Mas, tudo bem. Nunca é tarde para descobrimentos. Porque o som desta banda tem de ser ouvido uma vez na vida. Não importa se for aos 99 anos. Exagero?! Que nada, até pode haver centenas de outras bandas do tipo, mas esta é a primeira que eu vejo reunir tantos gêneros musicais, temas e combinações diferentes em uma só banda, ou melhor, em um só CD, já que, por enquanto,  só ouvi um: Pedras e Sonhos. E, além de tudo isso, ainda há a cereja do bolo: os caras são políticos e críticos em cada uma de suas canções. E há quanto tempo eu não ouvia uma banda “nova”, trazendo isto.

Entre rock, música popular e erudita, o clima de uma mesma música pode começar de um jeito e terminar de outro, o que me lembra muito as músicas de Queen, pela ousadia nas variações. Mas, toda essa diferença já começa na formação do quinteto, que tem três dos integrantes no vocal, Tomás Rosati (percussão e clarinete), Pablo Barroso (guitarra), e Bruno Danton (guitarra, cavaquinho e trompete). Os outros dois integrantes, Eduardo Baker e Gustavo Loureiro, tocam baixo e bateria, respectivamente.

Vozes sobrepostas e uma gostosa mistura de ritmos. Veja só o que te espera no álbum Pedra e Sonhos.


1. O Encontro de Lampião com Eike Batista (8’23”) – Esta é a música mais longa do CD. Ela começa com acordes suaves, mas depois vai se tornando um xaxado. O ritmo vai ficando circular de acordo com a história contada, que hora fica mais calma, hora mais agressiva.
2. Pedras e Sonhos (5’42”) – Uma guitarrada só. Lembra muito o som brega moderno do paraense Felipe Cordeiro.
3. Adeus Adeus (8’03”) – É o que os evangélicos costumam considerar como louvor, já que a letra exalta a Deus, com direito a backing vocals e trechos bíblicos como Salmos 23.
4. Cantiga de Ninar (3´21”) – É o que o próprio nome já diz uma canção de ninar, mesmo  com a entrada de uns riffs pesados aos 0´45”, além de  trechos de A Cuca te Pega.
5. Prelúdio em HD (2’06”) – O começo lembra a música Nhacoma, da Expressão Regueira. Com poucos instrumentais esta faixa é baseada em vocais cantados como se fosse um mantra.
6. N ´aghadê (6’51”) – Mistura música sul-africana como as de Lebo M com "batuques oludunianos".  
7. A Caça que se Apaixonou pelo Caçador (5’02”) – Nesta música misturam-se os riffs pesados de guitarra com aqueles gritos roqueiros estrondosos, palavrões e um gostosinho solo de baixo.
8. Consagração da Primavera (4’59”) – Tive a impressão de estar lendo um poema, ao discorrer sobre a letra desta música, que enaltece a Primavera. A canção tem suavidade instrumental digna de trilha sonora de cinema com violinos, clarinete, fogote e flugelhorn. E para confirmar a ideia de poema, os quatro últimos versos são declamados.
9. Os Assaltimbancos (5’40”) – Quem escuta as guitarras abrindo a música seguidas de vozes agressivas e sobrepostas não imagina o que está por vir. Ao  ouvir Os Assaltimbacos não se sabe se está ouvindo uma música natalina ou uma trilha daquelas de desenho animado até as guitarras voltarem, quando ainda no final, a entrada de um coro lembra a energia de final de musical. Que sonzeira bacana!

Agora é esperar os caras virem pra Sampa. Enquanto não veem, baixa aê e conheça a discografia da banda.

Clique aqui


Até a próxima,
Elís Lucas

quinta-feira, 21 de março de 2013

VERDADE UNIVERSAL

O objetivo para hoje era falar, com um dia de atraso, sobre o lançamento do novo trabalho do The Strokes, Comedown Machine - que, diga-se de passagem, está bem longe do Is This It? em termos de importância na discografia do quinteto. Mas, infelizmente, a música brasileira sofreu uma baixa daquelas, digna de ser comparada a um murro na boca do estômago. A voz de Emílio Santiago, 66, foi calada.

Aí, tio: obrigado pelas verdades e
desculpas pela hipocrisia.
Ah, e conte para nós se
Saigon é realmente bela.
É hipocrisia chorar pela morte dele se parar para pensar pelo lado das carpideiras de plantão no Twitter e no ~feice~, ou até mesmo no "jornalismo urubu". É verdade que Emílio Santiago não estava bombando perante o público, enquanto muita gente inferior a ele atraíam multidões a shows, programas de auditório, ganhavam hashtags ininteligíveis dos fãs e rios de dinheiro dos patrocinadores, gravadoras - e dos fãs, é claro. Isso não é julgamento de valor, vale a pena esclarecer. Emílio Santiago era foda um dos grandes, simples assim, e tantas palavras, tampouco meias palavras, reduzirão a culpa que sentimos por tê-lo deixado de lado. Por outro lado, é exatamente por isso que devemos, sim, chorar pela morte dele. Ele foi um dos maiores de seu tempo e era dono de voz marcante, que fazia pensar algo como: "Esse cara canta pra caralho muito." E é triste pensar que até pouco antes de morrer, ele estava ali, esquecido, tal como aquele livro ou álbum do qual gostamos demais, mas que vai sendo deixado de lado porque tem coisa nova chegando dia após dia.

Não serei hipócrita de dizer que era fã do cara e que o seu som estava na minha playlist cotidiana. Mas era admirador de sua obra - ou melhor, do pouco o que conhecia. Isso sem contar a parte sentimental da coisa: perdi as contas de quantas vezes coloquei o pé na estrada com o meu pai com sonzeiras do nível de Verdade Chinesa e Saigon na trilha sonora. Isso sem contar as horas a fio que passava conversando com o velho e com o som do tio ao fundo. A melodia era algo próximo de matadora, de tão bons e refinados que os arranjos eram. E as letras, acreditem, eram capítulos à parte. Não é em qualquer hit bagaceiro por aí que se pode ouvir algo como "O que é a vida, afinal? / É fazer valer o que o mestre mandou? É comer o pão que o diabo amassou? Perdendo da vida o que tem de melhor". 

Sim, perdemos da vida musical parte considerável do que havia de melhor. O que resta agora é tomar um copo e dar um tempo. A tristeza fatalmente passará, mas levará um tempo para tal. Mas a obra, tal qual Calabar [olá, Chico!], ficará como uma semente por estas bandas.

O que vale é o sentimento. Emílio Santiago, valeu pelas verdades, pouco importando se eram chinesas, estadunidenses, russas, cubanas, argentinas, palestinas ou brasileiras. Ou melhor, aposto que eram universais, só pode.

domingo, 17 de março de 2013

De Elís para Elis

Elis Regina estaria completando 68 anos hoje
Hoje, um puta domingo chuvoso, a dona de uma das melhores vozes da música popular brasileira, senão a melhor de todas elas, estaria completando 68 anos, se sua trajetória não tivesse sido interrompida por um daqueles erros de percurso que acontecem o tempo todo, com muita gente. Elis Regina Carvalho Costa, ou melhor, Elis Regina, se foi aos 36 anos, em 19 de janeiro de 1982. Eu nem havia nascido, mas quatro anos depois, meu pai se lembraria de dar o nome de seu maior ídolo a sua primeira filha. Eis um de meus maiores orgulhos.

Fico pensando... Elis Regina teve seu caminho baseado em uma escada, falando conotativamente. Sim, porque embora ela tenha nos deixado jovem demais, sua carreira também começou cedo demais. Aos sete anos ela enfrentou seu primeiro microfone, no Clube do Guri, um programa infantil transmitido pela Rádio Farroupilha. Na verdade, a timidez de Elis fez com que ela travasse e não emitisse uma palavra se quer. Mas, depois de cinco anos, pediu que a mãe a levasse novamente ao programa para cantar. E, dessa vez, ela cantou e passou a se apresentar por lá todos os domingos, dos 11 aos 13 anos. Até se tornar a Elis que conhecemos e lembramos até os dias de hoje. E diga-me se isso não é o topo da escada?!

Seu primeiro disco foi gravado aos 16 anos, Viva a Brotolândia ao lado da Orquestra de Severino Filho. E, mesmo com pouca idade, ela já mostrava ao que viria. Em sua última entrevista, dada ao programa Jogo da Verdade, veja só o que ela disse sobre seu primeiro CD, quando foi escolhida pela Continental para ser a Celly Campello deles, já que a Celly Campello era da Odeon. “E é uma coisa que me deixava um pouco nervosa, não o fato de ser a cantora escalada para ser a segunda Celly Campello, mas pelo fato de ter que ser uma segunda pessoa. Eu, mania. Dizem que a perfeição é uma meta. Eu tava a cata dela. Continuo a cata, não sei se eu vou chegar lá algum dia. Mas, eu queria morrer sendo eu. Naquela época era muito importante pra mim isso. E eu não achava muito graça entrar no pedaço meio parasitando o trabalho de uma outra pessoa. Aí já é um problema de espinha dorsal. Isso aí eu acho que é formação mesmo. É jeito que a gente é criado e desse jeito a gente vai pra vida”, disse. Aproveite e veja a entrevista na íntegra:



Bom, eu não vou me demorar mais fazendo aqui uma gigante biografia da Pimentinha (ou Furação, como Elis era conhecida), ou ainda escrevendo parágrafos e parágrafos sobre o que ela representa para o Brasil e para mim, que toda vez que folheio sua história em livros ou a ouço cantando ou falando, em alguma entrevista ou em algum documentário qualquer, emociono-me e fico me perguntando o porquê não nasci naquela época. Pura besteira, porque Elis ainda continua viva através de suas interpretações e através de seus filhos, Maria Rita, Pedro Mariano e João Boscoli, é claro.

Talentosíssima, Inteligente, ousada, visceral e de forte personalidade era assim que Elis Regina se traduzia: 

"Decifra-me ou devoro-te: Não vai me devorar, nem me decifra nunca. Eu sou a esfinge, e daí? Nesse narcisimo generalizado, me dá licença de eu ser narciso um pouquinho comigo mesma? De fazer comigo o que bem entender, ser amiga de quem quiser, de levar para minha casa as pessoas de quem eu gosto? Bem poucas pessoas vão conhecer a minha casa. Sou a Elis Carvalho Costa, que poucas pessoas vão morrer conhcendo".

Então, já viu né?! Elis Regina era puro mistério. Feliz de quem pode conhecê-la ao menos um pouco. A história dessa estrela é interressantíssima. Afinal, Elis Regina é expoente da música  brasileira. Passou por vários gêneros musicais e gravou diversos compositores como Milton Nascimento, Renato Teixeira e Ivan Lins, movimentando o cenário musical brasileiro. Encerro este post com uma de minhas preferidas interpretações de Elis, Atrás da Porta, de Chico Buarque.



Que nossa Elis nunca seja apagada de nossa memória, que ela viva em cada nota e em cada letra cantada. Que possamos passar aos nossos filhos, assim como meu pai passou a mim, que o Brasil também teve sua grande cantora. Não alguém que perdura até hoje, como o rei Roberto Carlos (com todo o respeito), mas uma estrela que passou rapidamente por nós e que deixou um rastro inesquecível. Viva Elis!
 
Beijos e até a próxima,

sábado, 16 de março de 2013

O extraordinário show de Jards Macalé


Ah, como eu queria iniciar este post dizendo "Ontem...blablablá blablablá". Mas, devido à correria ou à incapacidade mesmo, só consegui postá-lo hoje. Vocês se lembram que há alguns dias fiz um post falando sobre o Jards Macalé e o show que ele faria no Auditório do Ibirapuera, no domingo passado (10)?! Pois então, eu fui ao show e é sobre isso mesmo que tô agoniada pra falar.

Por falta de organização de horários eu acabei não assistindo ao documentário sobre ele [o Jards], que foi feito por Eryk Rocha, filho de Glauber Rocha, e exibido antes do show. Mas, cheguei a tempo do "parabéns" com direito a bolo e tudo mais. Eu ainda não conhecia o Auditório do Ibirapuera, e logo de cara fiquei encantada com o monumento, e tive de tirar uma foto, é claro. Peguei os gratuitos ingressos e fiquei aguardando. Até que uma multidão que estava assistindo ao documentário sai, e, em seguida, Jards, que aparece no topo da escada em caracol e cumprimenta a todos com uma clássica mostrada de dedo [o do meio]. Eu, ri. Até que após pedidos em coro Jards desce e se posiciona na mesa atrás do bolo, a um passo de mim. Eu nunca tinha visto coisa parecida, o carioca realmente veio comemorar seu aniversário com os paulistas, como prometido.

Pouco tempo depois de degustarmos o gostoso bolo de brigadeiro, subimos para ver o show. Jards entra no palco com seu violão e  a banda Let´s Play That, formada pelos fodões Leandro Joaquim (trompete/ flugerhorn),Thiago Queiroz (sax baritono/ sax alto/ flautas), Victor Gottardi (guitarra), Ricardo Rito (teclados), Thomas Harres (bateria/percussão) e Pedro Dantas (contrabaixo).  Ah, vale lembrar que ao entrar no palco, Macalé pendurou a camiseta vermelha que vestia antes, em um pedestal. Ela dizia "Seja Marginal, seja Herói". A frase,  do artista tropicalista Hélio Oiticica, sintetizou trabalhos conhecidos como marginália, ideia que na área musical foi substituída por maldito. E Jards era um deles.

A emoção de estar ali, compartilhando aquele momento, me trai e não consigo lembrar a primeira música tocada no show. Senti claramente, que minha curiosidade de saber o que acontecia ou a ação involuntária de registrar o momento  coisas natas de um jornalista foram tomadas por admiração, deslumbramento. Uma associação incomparável entre a sensação de assistir a um vídeo dele no Youtube e sentir  aquela energia ali, ao vivo.

Lembro-me que em um momento a banda se retirava do palco e só ficava Jards com seu violão velho de guerra. Era uma coisa intimista. Ele começava dedilhando, baixinho. Um jeito todo seu de tocar que em alguns momentos parecia premeditar um acorde em falso. Mas, de repente, batia mais forte, cantava mais alto e se fazia página marcada na vida de muitos que presenciavam aquele episódio inédito.

Neste momento, ele manda músicas como Vapor Barato e a famosa Gothan City, a qual foi vaiado no IV Festival Internacional da Canção, em 1969. E, como de praxe, é claro que ele não perderia a oportunidade de ser vaiado novamente. E no final da música, o público solta a voz e mostra que os paulistas também sabem vaiar. O que foi  a pedido de Jards, certamente. Eu, que nunca tinha vaiado ninguém, achei o máximo. É como se libertasse algo ruim. Devia ser por isso que o público vaiava tanto nos festivais de TV (risos).

Com a banda de volta ao palco interpretam (em silêncio) uma composição musical de John Cage, intitulada 4´33". Jards também cantou músicas de Wally Salomão e Noel Rosa, as quais conduziam o público a uma dimensão mais romântica e impossível de não arrancar, senão lágrimas, ao menos suspiros. Mas, Jards é inquieto, se levanta, joga letras de músicas ao chão, canta de costas e observa a banda como um maestro, deslumbrado com sua própria orquestra. Mas, a cereja do bolo ainda estava para acontecer, quando Macal chama o compositor Walter Franco, de surpresa, ao palco para cantar com ele sua própria música "Canalha". E aí, o público ovaciona geral.

Porém, depois de tudo isso, Jards ainda conseguiu fazer com que seu espetáculo terminasse no clímax. Pediu, de presente de aniversário, que o público fosse embora cantando Juízo Final, de Nelson Cavaquinho, a última música do repertório daquela noite. E o inacreditável aconteceu, todos se olhavam sem saber ao certo o que fazer, mas como que em destino a uma romaria, todos foram se levantado e se retirando cantando a música em grande coro. Pareciam em transe e, estávamos. Era a magia da música e do momento, que tinha contagiado geral. O que muitos traduziram como apoteose. Foi lindo e mais belo ainda, poder incluir este momento em minhas memórias. Terminou assim:

"O sol... há de brilhar mais uma vez/ A luz... há de chegar aos corações/ Do mal... será queimada a semente./ O amor... será eterno novamente/ É o Juízo Final, a história do bem e do mal/ Quero ter olhos pra ver, a maldade desaparecer."


Beijos e até o próximo post,

quinta-feira, 14 de março de 2013

Desabafo do Grito (Rock) - Parte II

Os brothers do Imaginário Mundo de Haroldo
quebraram a banca no palco, mas apenas
meia dúzia de gatos pingados puderam
sentir a vibe dos caras ao vivo.
(Crédito: Elís Lucas)
No post anterior, a Elís foi impecável na análise e relato de todo o pesar sobre a última edição do Grito Rock, que aconteceu (?) no último sábado, no Lago de Vila Galvão - ou popular Lago dos Patos, como preferir. Fiquei desolado e preferi (covardemente, reconheço) engolir a desolação, mas as linhas escritas pela minha parça me fizeram repensar sobre muita coisa a respeito disso.

Apesar da correria do pessoal da organização, que fez bem a sua parte, o resultado foi desolador. O público ficou restrito a uma meia dúzia, composta pelos os que sempre estão em eventos da cena cultural da cidade, e um ou outro transeunte. Nem coloco a chuva na roda porque as águas de março são fodas  não há como competir com fenômenos da natureza, sejamos francos. E ela foi a cereja de um bolo inglório.

Muita gente boa, contando a própria Elís, ficou sem tocar por causa da chuva, que inundou o local. Disse há pouco que não dá para competir com a chuva, o que é verdade. Mas a região do Lago dos Patos, (ainda?) tida como nobre, é tudo menos acessível para o pessoal que vem de locais diversos de Guarulhos. Se fosse na região do calçadão da Dom Pedro, sei lá, talvez haveria mais público - não muito, talvez -, mas haveria, como o foi no ano passado. O que mais doeu, como um chute do Anderson Silva na cara, foi justamente a falta de público. Sabe aquele lance de que é preciso valorizar e fomentar a cena cultural local? Então...

Muitos reclamam que não há nada em Guarulhos, que poucos se coçam para fazer alguma coisa e demais queixas válidas, até. Mas na hora do vamos ver, cadê todo mundo? Não serei hipócrita de dizer que sou o cara mais engajado na cena cultural daqui - tem aquele lance de sobrar mundo e faltar braços, saca? -, mas é visível que muita gente que se interessa por bandas underground, pelo teatro (não me refiro a stand-up e peças comerciais, ficou claro?), audiovisual e afins parece dar de ombros para o que rola aqui. E é aí que o público entra, pelos seguintes motivos: tem muita gente boa e interessada em fazer trabalhos de responsa por aqui, mas os envolvidos têm de suar sangue para fazê-lo.

Falando nas dificuldades, nem entrarei no mérito do poder público, que deixou muito a desejar nos últimos tempos - para usar termos educados. Digo a muita gente que, de uma maneira ou de outra, usa a cultura como moeda de troca, barganha, escambo e a porra toda e outras coisas lamentáveis. Logo a cultura, que é, ao lado da educação, um patrimônio imaterial da humanidade, se pá.

Ah, isso pode soar piegas, mas nunca é demais repetir que os caras da cena local precisam ser valorizados e, logo, de incentivo. Afinal, a cena grunge de Seattle (EUA), lá no finzinho dos anos 80, não surgiu por abiogênese; tampouco o genial mangue beat, na igualmente genial Hellcife. E olha que nem vou me estender muito porque exemplos não faltam.

Reclamamos muito, é verdade, mas será que não devemos arregaçar as mangas e apoiar os caras que levam tudo no peito e na raça? Fica a provocação.

Beijundas,

Mau.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Desabafo do Grito (Rock)


Estava um som sol do nordeste (em Guarulhos) quando cheguei ao espaço onde acontecia o Grito Rock, por volta das 15h10 do último sábado (9), ou ao menos deveria estar acontecendo desde as 14h. Porém, ao se aproximar do palco, não se ouvia Grito algum, e muito menos um público a perder de vista. O que ocorrera?! A mesa de som que a Prefeitura havia emprestado, não havia prestado. Deu pau, deixou todos na mão, ao menos pelas duas próximas horas.

Eu, que faria uma breve apresentação de 20 minutos, às 16h40, assim como todas as bandas tive o horário alterado e o repertório reduzido para que o evento não acabasse tão tarde. Com os atrasos resolvi passar as músicas em um canto qualquer do complexo do Teatro Nelson Rodrigues  pra matar as horas.

Estevan, vocalista da banda Imaginário Mundo
de Haroldo
Pouco tempo depois a mesa de som substituta chega e o show começa. Nem o Imaginário Mundo de Haroldo, a primeira banda a entrar no palco, imaginaria que o público do evento seria um desastre. O vocalista bem descontraído e a banda muito competente deram seu show aos poucos gatos pingados como se o público presente ocupasse o pouco trecho da rua interditada e toda a região do Lago dos Patos. Eu presumo saber o que eles sentiam, o prazer de tocar transcende a quantidade de espectadores. Isso porque arte desabrocha com ou sem público.

No entanto, em meu íntimo, pensava: mas será que é só isso. Não vem mais ninguém?! E o desgosto trazia um gosto amargo na boca. O porquê em tantas outras cidades o Grito Rock havia de ter tanto sucesso e em Guarulhos, o contrário? Mil coisas vieram-me à cabeça, a localização, por exemplo. Afinal, Vila Galvão é considerado um bairro nobre, e sejamos franco, a "elite" de Guarulhos pouco se interessaria em um evento de rock. E, fora isso, o lugar não é tão acessível quanto o centro da cidade, que recebeu o Grito Rock na edição passada. 

Com tudo isso, cheguei até pensar, que se o Grito tivesse sido realizado no bairro dos Pimentas, ou em qualquer bairro periférico, por exemplo, talvez tivéssemos sido mais felizes. Sim, porque lá é onde há povão, gente que se mistura e tem curiosidade de saber o que rola em seu bairro. Não ficam escondidos em suas prisões domiciliares [que isso não seja interpretado de forma preconceituosa ou “rotular”]. Pensei também, que se eu tivesse sugerido a matéria sobre o Grito uma semana antes, na revista Weekend, talvez pudesse ter atraído mais pessoas.

Em suma, espero que não encarem tudo isso como um chororô pelo leite derramado, a intenção é de apenas pontuar os fatos. Mas, não nego que fiquei bem chateada com a falta de guarulhenses no evento. Não porque eu também ia tocar, mas porque mostra o quanto a arte é desvalorizada aqui. Sim, porque para os que não consideram rock'n'roll uma arte, ainda assim haviam outras intervenções artísticas programadas, como o teatro, artes plásticas e performance. 

Os guarulhenses precisam incentivar e reconhecer seus artistas. Acho bacana a Prefeitura trazer grandes músicos para tocar na cidade, mas não sem antes incentivar os seus. Por que tanta dificuldade para disponibilizar um local ou equipamentos descentes? Admiro muito o Projeto Clam, que mete a mão na massa e mesmo com todas as dificuldades se propõem a fazer um evento como o Grito Rock.

Só para resumir, naquele sábado, o Grito não pode ser de todo mundo, porque por volta das 18h o mundo desabou em água e das nove bandas que estavam programadas para Gritar, seis ficaram de fora, incluindo eu e as bandas Instinto Coletivo e a Carbônica, que fazem parte do coletivo Clam, e os caras da Poderoso Chefão, que se deslocaram de Marília e não puderam dar o seu show. Também não ocorreu nenhuma das intervenções artísticas.

Por isso, nesse desabafo, gostaria de soltar o Grito de toda essa galera que não foi ouvido por muita gente ou sufocado pela própria chuva. Humildemente, deixo aqui também o meu apelo: acreditem e prestigiem os talentos de nossa cidade.


Beijos e até qualquer hora,
Elís Lucas


sexta-feira, 8 de março de 2013

Bora Gritar, Guarulhos!


Este ano, o Grito Rock chega à sua 11ª edição com 300 cidades de 30 países diferentes conectadas. Um festival sem fronteiras, que integra além dos latinos, outros países da Europa, Oceania e África, além, é claro, de Guarulhos, que pela segunda vez fará a cidade gritar.

O Grito surgiu como uma alternativa ao carnaval e este ano vem acontecendo desde o dia 1º de fevereiro. Em Guarulhos, será realizado no dia 9, a partir das 14h, no Teatro Nelson Rodrigues, com duas novidades: um dia antes, no dia 8, haverá mostra de curtas e clipes, a partir das 20h, e um observatório de música, às 21h30, a fim de reunir participantes dessa cadeia produtiva, como artistas, bandas, produtores, estúdios, jornalistas, zines, redes sociais e coletivos para integrar e movimentar o cenário musical da cidade. A entrada é gratuita.

Joanah Dark, uma das organizadoras do
 Grito Rock Guarulhos
Em cada cidade, os coletivos organizam-se para realizar o Grito Rock de seu município. Aqui em Guarulhos, o coletivo que impulsiona o Grito é o Projeto Clam (Círculo Livre de Amigos Músicos), formado por artistas guarulhenses, iniciado em 2007, que realiza eventos independentes, como forma de incentivo à inserção de bandas no cenário underground. “Depois de um tempo promovendo festivais aqui em Guarulhos, a gente acabou fazendo uma rede de contatos com vários coletivos iguais ao Clam. Conhecemos gente do interior, da rede Fora do Eixo e de todo o canto, que trabalha igual a gente, de uma forma totalmente independente. Foi assim que conhecemos o pessoal que faz o Grito Rock. Uma galera de um coletivo pequeno, de uma cidade, que decide fazer e faz. Esse é o nosso formato”, conta Joanah Dark, uma das integrantes do Projeto Clam.

Entre as bandas que subirão ao palco, estão: Instinto Coletivo, Carbônica, Reboco, 8h40 e seus amigos blablablá, Dropping Head, Huaska e Elís Lucas (eu) ao lado da percussionista Cristiane Araújo. Além disso, haverá também a participação da banda Poderoso Chefão, de Marília, o que garante um intercâmbio de uma banda de Guarulhos, ainda não definida, que tocará lá no interior. 

E, para quem pensa que o Grito é feito só de rock, já pode se preparar para assistir a outras intervenções artísticas como teatro, audiovisual, dança, artes plásticas e performance. Então, vamos gritar juntos?!

*Matéria publicada na edição de hoje da revista Weekend. Página 30.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Ingressos esgotados



Como na segunda-feira (4) havíamos divulgado aqui, o espetáculo Concerto de Cordas & Máquinas de Ritmo de Gilberto Gil no Auditório Ibirapuera, informamos que os ingressos  foram esgotados ontem mesmo, no dia em que começaram as vendas.

A procura pelo show de Gil foi tanta, que bastou menos de uma hora para que todos os ingressos fossem vendidos, o que aconteceu pela primeira vez, em se tratando de um espetáculo realizado no Auditório Ibirapuera. 

Até o momento, a direção da casa de espetáculos informou que não haverá shows extra. Porém, havendo desistências, os lugares livres serão vendidos no dia da apresentação mediante uma fila por ordem de chegada.

Qual o sentido da vida?

Vai na fé, Marginal Alado!
Como resposta ao título-pergunta, extraído porcamente da letra de Rubão, O Dono do Mundo, um dos hits do Charlie Brown Jr., nenhum. Isso pelo menos para Alexandre Magno Abrão, 42, conhecido pelo público, fãs, opinião públicas e haters como Chorão. Era o que parecia ser nos últimos tempos, em virtude da iminente depressão na qual ele mergulhou após divorciar-se. E dizer algo como "Chorão está morto", de tão repercutido no mainstream e nas timelines do Twitter e do ~feice~, chega a ser digno se virar uma #VanzoNews [ainda não conhece a hashtag criada por Fábio Vanzo, que escancara com bom humor e um quê de desilusão a mediocridade do jornalismo atual e faz a alegria dos tuiteiros de plantão? Olha, vale pacas a pena conferir o que rola por lá. Parênteses feitos]. Pretendia ter escrito antes algo a respeito, mas o dia foi from hell. Como se alguém fosse dar a mínima para isso - o texto, no caso.

As circunstâncias são nebulosas e qualquer tipo de especulação é irresponsável, leviana e insana. Isso sem contar que a parte forense fica para os responsáveis por tal. E falar que Chorão era um gênio compreendido, um poeta marginal ou algo que valha é hipocrisia barata, digna das carpideiras de aluguel. Por outro lado, é fato que ele, juntamente com a banda - leia-se Marcão, Champignon, Thiago (até 2001) e Pelado -, foi um dos expoentes do rock nacional do fim dos anos 90 e do começo do século XXI.

Chorão não tinha como objetivo tornar-se um ícone pseudo-cult, ao contrário do que seu desafeto e - por que não? - alterego Marcelo Camelo. Ao contrário, ele odiava gente chique e não usava sapato. Diga-se de passagem, graças ao (ex?) hermano, o cara foi considerado por um bom tempo como boçal e qualquer adjetivo correlato pelos bródinhos que adoravam cagar regras, mas que eram donos de intelecto de mosca de bar. Ele poderia mandar alguns chorumes, mas seu discurso tinha alguma coerência, de certo modo.

Tretas à parte, o negócio e a terapia dele eram o palco, onde ele fazia questão de lavar a roupa suja, não raras vezes com exagero. Quem não se lembra do esculacho público que ele deu em Champignon durante show que rolava em Apucarana (PR), no não tão distante setembro do ano passado? Ou das constantes brigas, que resultaram nas constantes mudanças de formação e nas inevitáveis comparações com Axl Roses por causa disso?

De quebra, soa hipócrita qualquer declaração de idolatria ao cara. E isso não cabe a nós, mas sim aos adolescentes e mais jovens, que curtiam o som atual do CBJR. A muitos de nós cabe a nostalgia dos primeiros tempos, de faixas como O Coro Vai Comê!, Proibida Pra Mim, Rubão, O Dono Do Mundo, Lugar Ao Sol, Vícios & Virtudes e afins. Quem não cantava na adolescência versos como "Os caras do Charlie Brown invadiram a cidade", "Se não eu, quem vai fazer você feliz?", ou enrolou bonito a língua até descobrir que a onomatopeia que o cara mandava era algo como "Pretty bitch for fun", que atire a primeira pedra. E, bem ou mal graças à banda - e a Chorão -, muita gente mergulhou de cabeça no rock'n' roll. Uns viraram metaleiros; outros, indie (Presente!). Houve quem largasse essa merda desencanasse e partisse para algo mais, digamos, cult.

Enfim, o escritório de Chorão não é mais na praia, mas em algum plano desconhecido. Aos que foram ou são fãs, aos que de fato ficaram chateados ou seguiram o inconsciente coletivo das redes sociais, o lance é respeitar a memória do cara. E mais uma coisa: é bom não cair nessa onda de coletâneas e álbuns póstumos, pois aí seria a mercantilização da morte. Se pá, ele diria - e com razão - que o jovem no Brasil não é levado a sério.

É isso.

Até mais ver,

Mau.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Programe-se! Gilberto Gil fará show no Ibira


Para quem, há tempos, não ia a um show de Gilberto Gil - um dos grandes símbolos da música popular-, a chance é agora, ou melhor, na quarta-feira (6), a partir das 11h quando os ingressos começarão a ser vendidos na bilheteria do Ibirapuera e pelo site ingresso.com por (nada mais) do que R$ 20 e estudantes ainda pagam meia.

O show, quero dizer, os shows serão realizados nos dias 15 e 16 de março no Auditório do Ibirapuera. E, como nos velhos festivais televisivos, Gil subirá ao palco acompanhado por uma orquestra, a Sinfônica da Bahia (OSBA). E, juntos levarão o público a um encontro com os momentos mais marcantes da carreira de Gil através de canções, como Quanta, Domingo no Parque, Estrela e Máquina de Ritmo

NOVOS SONS: THE STRYPES

Corte de cabelo moptop, expressões sérias e
autoconfiantes, foto em p&b...
Não, não é o Fab 4, tirem o cavalo da chuva.
Logo que se fala em música vinda da Irlanda, o que vem à mente logo de cara? Se vocês pensaram nos decanos do U2 ou em Damien Rice, até um dia desses daria a razão para vocês. Mas, caso vocês soubessem que vem coisa boa por aí - ou melhor, já veio - daquele pedaço de terra emancipado do Reino Unido? Ladies and gentlement, com vocês, The Strypes.

First of all, ao vê-los em ação, a cara de pirralhos novos dos integrantes chama a atenção. E não é para menos: os garotos - sim, garotos - têm entre 14 e 16 anos. E, se vocês pensaram que o som deles é bem alegre, cheio de gracinhas, sintetizadores - a propósito, acho que não sou o único a estar com medo do que poderá vir no Comedown Machine, do The Strokes - e aparência de boy band, vocês erraram. O som deles, digno de gente grande (sic), é tão bom, mas tão bom, que figurões da cena britânica tiraram o chapéu para eles, dentre os quais posso citar Paul Weller, frontman da banda made in 80's The Jam, e Carl Barat, guitarrista do (infelizmente) esfacelado The Libertines.

Contudo, apesar do hype em torno dos garotos e do seu som direto e reto, com riffs acelerados e secos, a torcida é para que os figurões do mainstream não caiam matando em cima deles e, assim, transformem a banda em mais uma boy band - o que seria uma pena, não? E o oba-oba exagerado em cima deles já começou: um jornalista do respeitável The Guardian, lá da terra de Keith Richards, ter dito sobre um show dos caras que parecia ter presenciado uma apresentação dos Rolling Stones há mais de cinquenta anos. Menos, não? Mesmo assim, o som dos garotos merece aplausos (de pé) e brindes, sejam com Heineken, Stella Artois, Guinness e o que mais estiver no copo.

Já deu para entender qual é a dos caras, não? Então, calarei a minha boca - ou melhor, pararei de escrever as baboseiras de sempre - e deixarei com que os garotos entreguem os cartões de visita.




Beijundas,

Mau.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Jards Macalé, quem é?!


Vinicius e Jards Macalé

“Um personagem quase único na música brasileira. Um maldito, diz um desses críticos musicais instalados nos jornais. Um subversor, diz outro. E mais um outro ainda arremata: só não é único porque entre os gênios do Brasil existe Noel Rosa e Tom Zé”. Estas foram as palavras de Antônio Abujamra, apresentador do programa Provocações, da TV Cultura, na abertura de sua entrevista com o músico Jards Macalé, que no domingo (3) completará 70 anos. E, para comemorar as sete décadas, o carioca festejará com os paulistanos, em uma apresentação com entrada franca, no auditório do Ibirapuera, no dia 10, às 19h. A festa começa às 17h com a exibição do filme Jards, dirigido por Eryck Rocha, filho de Glauber Rocha [os ingressos serão distribuídos uma hora e meia antes da exibição do filme].

Jards Macalé – 1971. (David Drew Zingg)
Jards Anet da Silva é carioca da Tijuca, onde cresceu ouvindo os batuques do morro e foi influenciado pelo jazz, seresta e pelo samba-canção. Isso, sem contar que em casa, ouvia os  valsas e modinhas tocadas no piano pela mãe e no acordeom, pelo pai. Jards estudou piano, orquestração, violoncelo, análise musical e violão com eruditos. Além disso, trabalhou como copista de seu vizinho, o maestro Severino Araújo, que foi regente por quase 70 anos da Orquestra Tabajara. Quanto ao sobrenome Macalé, Jards ganhou de colegas em peladas, em “homenagem” ao pior jogador do Botafogo, na época.

A primeira vez em que ouvi falar em Jards Macalé foi no livro Tropicália – Um Caldeirão Cultural, o qual costumo considerar uma bíblia da música popular brasileira. Ele era citado como um dos integrantes do Grupo Opinião, onde Macalé começou a carreira profissional como violonista no grupo. O Opinião era um grupo de teatro de protesto e de resistência, além de centro de estudos e difusão da dramaturgia nacional e popular.

Assim como Jorge Mautner, Jards era considerado maldito pela crítica por ser um músico incompreendido e avançado para a sua época. Prova disso, é a maioria de nós conhecer e curtir à beça a música “Vapor Barato” na voz de Falcão, de O Rappa.
 O que mostra que a música é atual.

A canção é assinada por Jards e seu parceiro Waly Salomão em 1972. Vapor Barato é o maior sucesso de Jards, eternizado por Gal, no antológico Fa-tal – Gal a Todo Vapor (1971), LD duplo do show homônimo. Antes disso, Macalé fez a direção musical do disco Legal (1970) de Gal, um dos mais importantes de sua carreira e, em 72, assinou a direção do disco de outro baiano, Transa, de Caetano Veloso, que para muitos é considerado seu melhor disco.



Além de parcerias com Caetano, Gilberto Gil e Waly Salomão, outros nomes como Torquato Neto, Vinicius de Moraes e Glauber Rocha fizeram parte da lista. Macalé também fez trilhas sonoras para os filmes Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade e para O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, de Glauber. Jards bebeu da água de vários cenários por onde deixou um pouco de si, seja no cinema, teatro, artes plásticas ou televisão. Por todas elas a música o permitiu deixar sua colaboração.  

Em seu mais recente trabalho, a coletânea Jards (2011),  há participações especiais de Frejat e Luis Melodia. “A canção se equilibra sobre acidentes rítmicos fazendo estender sua melodia a fim de manter sua integridade. Estrutura semelhante, mas ainda mais radical, se repete em Let's Play That (Jards Macalé/Torquato Neto). A canção é desconstruída a ponto de, no fim, não reconhecermos mais sua forma original. O disco é organizado por esse movimento de concentração e dispersão, alternando-se entre euforia e contenção. Comportamento parecido com Transa. Mas se ali as mudanças de intenção são comandadas pela letra e pelas citações de Caetano, no disco de Macalé seu violão é que guia essas oscilações”, escreveu o cantor e compositor Rômulo Fróes no Estadão.    

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Até a próxima.
Beijos,
Elís Lucas