domingo, 17 de março de 2013

De Elís para Elis

Elis Regina estaria completando 68 anos hoje
Hoje, um puta domingo chuvoso, a dona de uma das melhores vozes da música popular brasileira, senão a melhor de todas elas, estaria completando 68 anos, se sua trajetória não tivesse sido interrompida por um daqueles erros de percurso que acontecem o tempo todo, com muita gente. Elis Regina Carvalho Costa, ou melhor, Elis Regina, se foi aos 36 anos, em 19 de janeiro de 1982. Eu nem havia nascido, mas quatro anos depois, meu pai se lembraria de dar o nome de seu maior ídolo a sua primeira filha. Eis um de meus maiores orgulhos.

Fico pensando... Elis Regina teve seu caminho baseado em uma escada, falando conotativamente. Sim, porque embora ela tenha nos deixado jovem demais, sua carreira também começou cedo demais. Aos sete anos ela enfrentou seu primeiro microfone, no Clube do Guri, um programa infantil transmitido pela Rádio Farroupilha. Na verdade, a timidez de Elis fez com que ela travasse e não emitisse uma palavra se quer. Mas, depois de cinco anos, pediu que a mãe a levasse novamente ao programa para cantar. E, dessa vez, ela cantou e passou a se apresentar por lá todos os domingos, dos 11 aos 13 anos. Até se tornar a Elis que conhecemos e lembramos até os dias de hoje. E diga-me se isso não é o topo da escada?!

Seu primeiro disco foi gravado aos 16 anos, Viva a Brotolândia ao lado da Orquestra de Severino Filho. E, mesmo com pouca idade, ela já mostrava ao que viria. Em sua última entrevista, dada ao programa Jogo da Verdade, veja só o que ela disse sobre seu primeiro CD, quando foi escolhida pela Continental para ser a Celly Campello deles, já que a Celly Campello era da Odeon. “E é uma coisa que me deixava um pouco nervosa, não o fato de ser a cantora escalada para ser a segunda Celly Campello, mas pelo fato de ter que ser uma segunda pessoa. Eu, mania. Dizem que a perfeição é uma meta. Eu tava a cata dela. Continuo a cata, não sei se eu vou chegar lá algum dia. Mas, eu queria morrer sendo eu. Naquela época era muito importante pra mim isso. E eu não achava muito graça entrar no pedaço meio parasitando o trabalho de uma outra pessoa. Aí já é um problema de espinha dorsal. Isso aí eu acho que é formação mesmo. É jeito que a gente é criado e desse jeito a gente vai pra vida”, disse. Aproveite e veja a entrevista na íntegra:



Bom, eu não vou me demorar mais fazendo aqui uma gigante biografia da Pimentinha (ou Furação, como Elis era conhecida), ou ainda escrevendo parágrafos e parágrafos sobre o que ela representa para o Brasil e para mim, que toda vez que folheio sua história em livros ou a ouço cantando ou falando, em alguma entrevista ou em algum documentário qualquer, emociono-me e fico me perguntando o porquê não nasci naquela época. Pura besteira, porque Elis ainda continua viva através de suas interpretações e através de seus filhos, Maria Rita, Pedro Mariano e João Boscoli, é claro.

Talentosíssima, Inteligente, ousada, visceral e de forte personalidade era assim que Elis Regina se traduzia: 

"Decifra-me ou devoro-te: Não vai me devorar, nem me decifra nunca. Eu sou a esfinge, e daí? Nesse narcisimo generalizado, me dá licença de eu ser narciso um pouquinho comigo mesma? De fazer comigo o que bem entender, ser amiga de quem quiser, de levar para minha casa as pessoas de quem eu gosto? Bem poucas pessoas vão conhecer a minha casa. Sou a Elis Carvalho Costa, que poucas pessoas vão morrer conhcendo".

Então, já viu né?! Elis Regina era puro mistério. Feliz de quem pode conhecê-la ao menos um pouco. A história dessa estrela é interressantíssima. Afinal, Elis Regina é expoente da música  brasileira. Passou por vários gêneros musicais e gravou diversos compositores como Milton Nascimento, Renato Teixeira e Ivan Lins, movimentando o cenário musical brasileiro. Encerro este post com uma de minhas preferidas interpretações de Elis, Atrás da Porta, de Chico Buarque.



Que nossa Elis nunca seja apagada de nossa memória, que ela viva em cada nota e em cada letra cantada. Que possamos passar aos nossos filhos, assim como meu pai passou a mim, que o Brasil também teve sua grande cantora. Não alguém que perdura até hoje, como o rei Roberto Carlos (com todo o respeito), mas uma estrela que passou rapidamente por nós e que deixou um rastro inesquecível. Viva Elis!
 
Beijos e até a próxima,

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