sábado, 16 de março de 2013

O extraordinário show de Jards Macalé


Ah, como eu queria iniciar este post dizendo "Ontem...blablablá blablablá". Mas, devido à correria ou à incapacidade mesmo, só consegui postá-lo hoje. Vocês se lembram que há alguns dias fiz um post falando sobre o Jards Macalé e o show que ele faria no Auditório do Ibirapuera, no domingo passado (10)?! Pois então, eu fui ao show e é sobre isso mesmo que tô agoniada pra falar.

Por falta de organização de horários eu acabei não assistindo ao documentário sobre ele [o Jards], que foi feito por Eryk Rocha, filho de Glauber Rocha, e exibido antes do show. Mas, cheguei a tempo do "parabéns" com direito a bolo e tudo mais. Eu ainda não conhecia o Auditório do Ibirapuera, e logo de cara fiquei encantada com o monumento, e tive de tirar uma foto, é claro. Peguei os gratuitos ingressos e fiquei aguardando. Até que uma multidão que estava assistindo ao documentário sai, e, em seguida, Jards, que aparece no topo da escada em caracol e cumprimenta a todos com uma clássica mostrada de dedo [o do meio]. Eu, ri. Até que após pedidos em coro Jards desce e se posiciona na mesa atrás do bolo, a um passo de mim. Eu nunca tinha visto coisa parecida, o carioca realmente veio comemorar seu aniversário com os paulistas, como prometido.

Pouco tempo depois de degustarmos o gostoso bolo de brigadeiro, subimos para ver o show. Jards entra no palco com seu violão e  a banda Let´s Play That, formada pelos fodões Leandro Joaquim (trompete/ flugerhorn),Thiago Queiroz (sax baritono/ sax alto/ flautas), Victor Gottardi (guitarra), Ricardo Rito (teclados), Thomas Harres (bateria/percussão) e Pedro Dantas (contrabaixo).  Ah, vale lembrar que ao entrar no palco, Macalé pendurou a camiseta vermelha que vestia antes, em um pedestal. Ela dizia "Seja Marginal, seja Herói". A frase,  do artista tropicalista Hélio Oiticica, sintetizou trabalhos conhecidos como marginália, ideia que na área musical foi substituída por maldito. E Jards era um deles.

A emoção de estar ali, compartilhando aquele momento, me trai e não consigo lembrar a primeira música tocada no show. Senti claramente, que minha curiosidade de saber o que acontecia ou a ação involuntária de registrar o momento  coisas natas de um jornalista foram tomadas por admiração, deslumbramento. Uma associação incomparável entre a sensação de assistir a um vídeo dele no Youtube e sentir  aquela energia ali, ao vivo.

Lembro-me que em um momento a banda se retirava do palco e só ficava Jards com seu violão velho de guerra. Era uma coisa intimista. Ele começava dedilhando, baixinho. Um jeito todo seu de tocar que em alguns momentos parecia premeditar um acorde em falso. Mas, de repente, batia mais forte, cantava mais alto e se fazia página marcada na vida de muitos que presenciavam aquele episódio inédito.

Neste momento, ele manda músicas como Vapor Barato e a famosa Gothan City, a qual foi vaiado no IV Festival Internacional da Canção, em 1969. E, como de praxe, é claro que ele não perderia a oportunidade de ser vaiado novamente. E no final da música, o público solta a voz e mostra que os paulistas também sabem vaiar. O que foi  a pedido de Jards, certamente. Eu, que nunca tinha vaiado ninguém, achei o máximo. É como se libertasse algo ruim. Devia ser por isso que o público vaiava tanto nos festivais de TV (risos).

Com a banda de volta ao palco interpretam (em silêncio) uma composição musical de John Cage, intitulada 4´33". Jards também cantou músicas de Wally Salomão e Noel Rosa, as quais conduziam o público a uma dimensão mais romântica e impossível de não arrancar, senão lágrimas, ao menos suspiros. Mas, Jards é inquieto, se levanta, joga letras de músicas ao chão, canta de costas e observa a banda como um maestro, deslumbrado com sua própria orquestra. Mas, a cereja do bolo ainda estava para acontecer, quando Macal chama o compositor Walter Franco, de surpresa, ao palco para cantar com ele sua própria música "Canalha". E aí, o público ovaciona geral.

Porém, depois de tudo isso, Jards ainda conseguiu fazer com que seu espetáculo terminasse no clímax. Pediu, de presente de aniversário, que o público fosse embora cantando Juízo Final, de Nelson Cavaquinho, a última música do repertório daquela noite. E o inacreditável aconteceu, todos se olhavam sem saber ao certo o que fazer, mas como que em destino a uma romaria, todos foram se levantado e se retirando cantando a música em grande coro. Pareciam em transe e, estávamos. Era a magia da música e do momento, que tinha contagiado geral. O que muitos traduziram como apoteose. Foi lindo e mais belo ainda, poder incluir este momento em minhas memórias. Terminou assim:

"O sol... há de brilhar mais uma vez/ A luz... há de chegar aos corações/ Do mal... será queimada a semente./ O amor... será eterno novamente/ É o Juízo Final, a história do bem e do mal/ Quero ter olhos pra ver, a maldade desaparecer."


Beijos e até o próximo post,

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