quinta-feira, 21 de março de 2013

VERDADE UNIVERSAL

O objetivo para hoje era falar, com um dia de atraso, sobre o lançamento do novo trabalho do The Strokes, Comedown Machine - que, diga-se de passagem, está bem longe do Is This It? em termos de importância na discografia do quinteto. Mas, infelizmente, a música brasileira sofreu uma baixa daquelas, digna de ser comparada a um murro na boca do estômago. A voz de Emílio Santiago, 66, foi calada.

Aí, tio: obrigado pelas verdades e
desculpas pela hipocrisia.
Ah, e conte para nós se
Saigon é realmente bela.
É hipocrisia chorar pela morte dele se parar para pensar pelo lado das carpideiras de plantão no Twitter e no ~feice~, ou até mesmo no "jornalismo urubu". É verdade que Emílio Santiago não estava bombando perante o público, enquanto muita gente inferior a ele atraíam multidões a shows, programas de auditório, ganhavam hashtags ininteligíveis dos fãs e rios de dinheiro dos patrocinadores, gravadoras - e dos fãs, é claro. Isso não é julgamento de valor, vale a pena esclarecer. Emílio Santiago era foda um dos grandes, simples assim, e tantas palavras, tampouco meias palavras, reduzirão a culpa que sentimos por tê-lo deixado de lado. Por outro lado, é exatamente por isso que devemos, sim, chorar pela morte dele. Ele foi um dos maiores de seu tempo e era dono de voz marcante, que fazia pensar algo como: "Esse cara canta pra caralho muito." E é triste pensar que até pouco antes de morrer, ele estava ali, esquecido, tal como aquele livro ou álbum do qual gostamos demais, mas que vai sendo deixado de lado porque tem coisa nova chegando dia após dia.

Não serei hipócrita de dizer que era fã do cara e que o seu som estava na minha playlist cotidiana. Mas era admirador de sua obra - ou melhor, do pouco o que conhecia. Isso sem contar a parte sentimental da coisa: perdi as contas de quantas vezes coloquei o pé na estrada com o meu pai com sonzeiras do nível de Verdade Chinesa e Saigon na trilha sonora. Isso sem contar as horas a fio que passava conversando com o velho e com o som do tio ao fundo. A melodia era algo próximo de matadora, de tão bons e refinados que os arranjos eram. E as letras, acreditem, eram capítulos à parte. Não é em qualquer hit bagaceiro por aí que se pode ouvir algo como "O que é a vida, afinal? / É fazer valer o que o mestre mandou? É comer o pão que o diabo amassou? Perdendo da vida o que tem de melhor". 

Sim, perdemos da vida musical parte considerável do que havia de melhor. O que resta agora é tomar um copo e dar um tempo. A tristeza fatalmente passará, mas levará um tempo para tal. Mas a obra, tal qual Calabar [olá, Chico!], ficará como uma semente por estas bandas.

O que vale é o sentimento. Emílio Santiago, valeu pelas verdades, pouco importando se eram chinesas, estadunidenses, russas, cubanas, argentinas, palestinas ou brasileiras. Ou melhor, aposto que eram universais, só pode.

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