segunda-feira, 24 de março de 2014

SÍNDROME DO THE STROKES À VISTA? OU FEBRE DANCE MESMO?

Feras, até vocês?! (crédito: Kevin Winter / Getty Images)

Você deve se perguntar por que o The Strokes foi citado num texto sobre o The Black Keys. Tá, a turma na casa dos 20 e poucos anos [velho e chato detected] cresceu ouvindo que o The Strokes era a salvação do rock. O mesmo foi dito por uns e outros sobre a parceria de Dan Auerbach e Patrick Carney. Mas parece que as antigas "salvações" precisam de ajuda, isso sim.

A história é a seguinte: Angles (2011) e Comedown Machine (2013), os dois últimos álbuns do quinteto liderado por Julian Casablancas, têm vibe cuja pegada é mais dançante. Muito disso é creditado aos sintetizadores, que ofuscaram os riffs de guitarra tão peculiares aos primeiros álbuns da banda e que arrebataram milhões de fãs ao redor do mundo. Os sons desses álbuns vão bem na pista de dança, é verdade, mas fizeram os fãs mais puristas e chatos - inclusive eu - torcerem o nariz. Queremos riffs sujos e viscerais. E é isso o que se espera do The Strokes. [WARNING: não tenho nada contra sintetizadores e sons que remetam à vibe mais dançante. Depeche Mode, só para citar um exemplo, tem presença obrigatória por causa da vibe mais dançante. Cada um no seu quadrado, simples assim. Parêntese feito.]

Ao que parece, o The Black Keys foi acometida pela "Síndrome do The Strokes". Hoje foi divulgada faixa Fever, primeiro single do novo álbum, Turn Blue, que será lançado em maio deste ano. E, usando o som como base, dá para dizer que está bem diferente se comparado com os riffs que dos álbuns Brother (2010) e El Camino (2012), que tornaram a banda aclamada ao redor do mundo, ao ponto de ser superestimada e escolhida como headliner do Lollapalooza '13 - o que foi decepcionante, se for usada como parâmetro a expectativa dos fãs para o show. O som ficou OK e será escolha certeira em muito setlist de muito rolê indie, devo ser justo, mas chega a ser brochante se comparado ao que já foi feito pelo duo de Dan Auerbach e Patrick Carney. "Menos teclados e mais riffs", é isso o que queremos.

Para quem quiser ouvir para concordar ou discordar de mim, take your pick.



That's all, folks.

Abraços,

Mau.

A história de Partido Alto


Partido Alto. Quantos de nós conhecemos essa música na voz rasgada de Cássia Eller e talvez nunca pensamos em quem a compôs? Mesmo que no fim da letra, ela mesma fazia questão de cantar a bola: "vocês não sabem, mas o Chico Buarque é o meu verdadeiro pai".

Pois bem. Poucos de fato se importam ou têm a curiosidade de saber quem são os compositores por trás das letras. Mas, o bacana de saber quem são, é que toda canção tem sua própria história. E essa, particularmente, retrata um período de tensão no Brasil: a ditadura. Chico a compôs em 1972 para o filme "Quando o Carnaval Chegar" [assista ao filme na íntegra], de Cacá Diegues. A letra foi vítima da ditadura, submetida à censura com o seguinte despacho em 44 palavras:

Se é engraçado ou uma infelicidade para o autor ter nascido no Brasil, país onde ele vive e encontra esse povo generoso que lhe dá sustento comprando seus discos, e pagando-o regiamente nos seus shows, afirmo que ele está nos gozando. Opino pelo veto.

Para liberá-la, ele teve que substituir "titica" por "coisica" e "brasileiro" por "batuqueiro", e ainda ouviu uma estapafúrdia apreciação estética de sua obra feita pelo censor: "como é que você, que fez uma música tão bonita como 'Construção', agora vem com esta, falando em titica e saco cheio?".

Abaixo você confere a versão censurada cantada por Chico e MPB4:



É... Aposto que essa você não sabia, né?! Nem eu.

*Fonte: Livro Chico Buarque - Histórias de Canções, de Wagner Homem.

domingo, 23 de março de 2014

Maglore na Casa do Mancha


Nova formação da Maglore: Teago, Felipe e
Rodrigo (novo integrante)
Para quem realmente acredita que o ano só começa depois do Carnaval, ontem (22|3), o primeiro show da Maglore na capital paulista, ajudou a reforçar essa máxima. O lugar escolhido? A Casa do Mancha. Uma casinha localizada numa escondida rua da fervilhante Vila Madalena.

Marcado para começar às 20h, a banda iniciou o show às 21h15. O já esperado. O ruim foi contar tanto com esse comum "atraso", e acabar perdendo provavelmente as quatro primeiras músicas do set list. Que foi o meu caso. Mais atrasada do que a noiva (risos).


Formação antiga da banda tinha Léo Brandão,
 (teclado e guitarras  - à direita da foto)
 e Nery Leal (baixista - à esquerda)
A casa já estava cheia. Mas, entre um passinho e outro, conseguimos chegar mais próximas da banda. Opa! Um integrante diferente, avistei. Não, não é só diferente pelo bigodinho contrastando com os rostos barbudos de Teago Oliveira (voz e guitarras) e Felipe Dieder (bateria). Diferente do tipo, novo integrante. Ele é Rodrigo Damati, o novo baixista. Tocava na já extinta banda Café e Cervejas junto com Felipe. "Esta já é a nova formação há seis meses", contou o vocalista neste show.

A formação antiga era muito boa. Cheguei a ir a um show deles no ano passado. Mas, o antigo quarteto não deixou nada a desejar depois de se tornar o power trio. O que não deu pra evitar, foi cantar os solos que a segunda guitarra fazia. Mas, a novidade é que o novo baixista canta! E quando faz solo ou a segunda voz para Teago, a combinação é linda de se ouvir.

A sonoridade de Maglore é daquelas que não deixa ninguém parado. Um suingue que só os baianos tem numa mistura de rock e psicodelia com um "q" de tropicalista. Quanto ao show? Quem não foi perdeu. Eles ainda tocaram uma música inédita! Mas, delícias musicais à parte, o que pode ser mais bacana do que tomar uma cerveja no mesmo balcão que seu ídolo?! Só mesmo tendo um amor ao lado pra acompanhar tudo isso, não é mesmo?! E até isso eu tinha. 

Bom, até o próximo post. Mas, antes disso, ouça o mais recente álbum da banda "Vamos Pra Rua", lançado no ano passado.

quinta-feira, 20 de março de 2014

O melhor da vida sempre vem de graça

Marcelo Jeneci no Memorial da América Latina


A banda já está no palco. Estão passando o som. Com pouco mais de 20 minutos de atraso, Marcelo Jeneci vai até o microfone e pede desculpas: “a chuva zoou o palco”, diz ele, que demoraria pouco mais para começar o show. Coisa pouca. E o que não foi pouco ali, foi o respeito dele com o público.

O show começa, não reconheço as três primeiras canções. Certamente estão em seu mais recente álbum “De Graça”. Mas, eu mal me preocupo em saber. O que eu queria mesmo era sentir o que a nova fase de Jeneci, traduzida em canções, era capaz de despertar ao vivo. Ouvi dizer que foi fruto de uma separação. Coisa triste, não?! Mas, o que não é nem um pouquinho triste, é esse talento de conversão. Do sofrimento à poesia. Pensando bem, a dor não é feia, mas é incrível como pode se tornar plenamente bela:

“Então vamos ali no seu quintal plantar um pé de nós dois” (Sorriso Madeira)
“Um de nós, vai sentir a falta de um de nós” (Um de Nós)

"Nosso contorno desenha uma vontade" (Nada a Ver)

E como essas frases ressoariam em você? Depende tanto do seu momento, não é mesmo? Mas, também depende da voz que elas têm e quais melodias a embalam. No show de Jeneci, vi crianças dançando, tão levemente, que pareciam simular movimentos de borboletas. Um casal rodopiava. Um homem criava coreografias e dançava sozinho. Descalçou até os sapatos. Casais como nós (eu e ela), em gêneros, abraçavam-se livremente e sussurravam junto com Jeneci e sua paceira Laura Lavieri, as letras que enchiam a pça do Memorial com uma energia repleta de amor. Ah, não dá para deixar de citar as imagens reproduzidas nos dois telões posicionados nas extremidades do palco. Elas nos levavam ainda mais para aquela dimensão que o som já nos conduzia. Sensações, das boas.

A imagem faz parte da arte do álbum, que remete ao verão na praia, o outono em São Paulo e o inverno de gravação. Um pouco do que se via nos telões.

Em quase duas horas de show, além das músicas do novo CD que têm uma sonoridade eletrônica incrível, Jeneci relembrou canções como Felicidade e Feito Pra Acabar, do álbum anterior. Foi um tiro mais do que certeiro, o Memorial da América Latina ter convidado Marcelo Jeneci para encerrar as atividades musicais de seus 25 anos. O melhor da vida, realmente nos veio de graça… Numa terça-feira à noite, de março, que até as águas deram uma trégua para ouvir Jeneci cantar.

*Ouça De Graça aqui.