sexta-feira, 27 de setembro de 2013

ADEUS, M(INHA)TV

Tá, ninguém se lembra do Fábio Massari, mas ele foi um
dos caras que me fizeram ser viciado em música e me
fazem lamentar o seu fim. Por causa de caras como ele,
sentirei sua falta e falarei sobre ti para os meus filhos.
Caralho, MTV! Acabar assim mesmo, como se fosse a coisa mais comum do mundo? Logo você, que por um bom tempo tentou ser a outsider na televisão brasileira e não tinha medo disso - pelo contrário, sentia um puta orgulho disso -, porra?! Logo você, que, mesmo na época emo e vendida, sempre soube como poucas rir de si mesma e dos outros? Que merda, sejamos francos. Downsize, grana, novos tempos, mercados e o caralho a quatro, sei bem como é. Nada é eterno, mas você foi highlander enquanto durou. Estava na cara que uma hora a pirâmide ia explodir. Cair no papinho mole do mercado fonográfico é uma puta furada e você sempre soube disso, mas não havia muito o que fazer. Era o que havia para hoje e o que terá, mesmo respirando por aparelhos, até a próxima segunda-feira.

Nem vou falar muito sobre o seu fim e sobre a #saideiramtvbrasil. O Victor Martins, do Grande Prêmio, quebrou a banca ao fazê-lo, logo, não tenho nada a acrescentar. Mas que você vai fazer falta, sua danada, vai. Tá, dizem que você vai dar uma de Kenny McCormick e renascer qualquer dia desses, vá lá, mas nada será como antes. Parece que foi ontem [bem, faz tempo, até] que te vi pela primeira vez, naquele que foi o meu primeiro grito de anarquia em relação aos meus pais. Parece que foi ontem que você abriu as minhas portas da percepção e me fez ficar apaixonado pelo rock - sim, você foi rock'n'roll há até algum tempo. Parece que foi um dia desses que, mesmo ao seu jeito alienado, pero politizado, percebi que é possível falar de política sem ser pedante, chato, essas porras.

Saiba que, mais do que formar o meu gosto musical, você também influenciou a minha vida de modo geral. Sim, é vergonhoso dizer isso, mas quis ser VJ um dia, mas era (ainda sou?) tímido pacas, sabia? Como nunca fui exemplar à frente das câmeras, decidi ficar escondido, lá no canto do castigo, no backstage e me expressar por meio das palavras - ainda falta muito para eu dizer que sou craque ao usá-las, saca? Ah, o meu senso de humor nonsense e infame também está na sua conta. Meu, mostrar os sem-noção e joselitos [sic] do Hermes & Renato, o humor negro do South Park e a insanidade de Beavis & Butt Head para um moleque de 14, 15 anos é meio irresponsável, na moral. Mas foi bem melhor assim.

Confesso também que, conforme fui crescendo e você foi pagando de adulto adolescente, cara, fui ficando com preguiça de ti. Onde já se viu o cara do rolê se meter com a turma colorida e feliz da quinta série?! Aquela turma que cresceu sendo influenciada por você - eu me incluo nela - saiu de perto e não suportava te ver, naquele esquema de tristeza com decepção. Mas é foda ver um velho amigo na merda tempos depois, por mais que ele tenha feito por onde para chegar lá.

Ei, MTV, você vai fazer falta. Vai ser triste verem apagar a sua luz naquele prédio que foi da Tupi e no qual uns pastores aí não tiram os olhos, como ao ver o médico desligar os aparelhos de um ente querido. Não há muito a dizer. Obrigado por formar a minha visão de mundo, por moldar o meu gosto musical e por me ajudar a ter virado quem sou, por mais que eu não seja grande coisa. Apesar de admitir, triste, que você não teve vergonha na cara, valeu aí por todos os anos em que você botou essa porra para funcionar. É o fim e, infelizmente, esse é o nosso último adeus.