quarta-feira, 13 de março de 2013

Desabafo do Grito (Rock)


Estava um som sol do nordeste (em Guarulhos) quando cheguei ao espaço onde acontecia o Grito Rock, por volta das 15h10 do último sábado (9), ou ao menos deveria estar acontecendo desde as 14h. Porém, ao se aproximar do palco, não se ouvia Grito algum, e muito menos um público a perder de vista. O que ocorrera?! A mesa de som que a Prefeitura havia emprestado, não havia prestado. Deu pau, deixou todos na mão, ao menos pelas duas próximas horas.

Eu, que faria uma breve apresentação de 20 minutos, às 16h40, assim como todas as bandas tive o horário alterado e o repertório reduzido para que o evento não acabasse tão tarde. Com os atrasos resolvi passar as músicas em um canto qualquer do complexo do Teatro Nelson Rodrigues  pra matar as horas.

Estevan, vocalista da banda Imaginário Mundo
de Haroldo
Pouco tempo depois a mesa de som substituta chega e o show começa. Nem o Imaginário Mundo de Haroldo, a primeira banda a entrar no palco, imaginaria que o público do evento seria um desastre. O vocalista bem descontraído e a banda muito competente deram seu show aos poucos gatos pingados como se o público presente ocupasse o pouco trecho da rua interditada e toda a região do Lago dos Patos. Eu presumo saber o que eles sentiam, o prazer de tocar transcende a quantidade de espectadores. Isso porque arte desabrocha com ou sem público.

No entanto, em meu íntimo, pensava: mas será que é só isso. Não vem mais ninguém?! E o desgosto trazia um gosto amargo na boca. O porquê em tantas outras cidades o Grito Rock havia de ter tanto sucesso e em Guarulhos, o contrário? Mil coisas vieram-me à cabeça, a localização, por exemplo. Afinal, Vila Galvão é considerado um bairro nobre, e sejamos franco, a "elite" de Guarulhos pouco se interessaria em um evento de rock. E, fora isso, o lugar não é tão acessível quanto o centro da cidade, que recebeu o Grito Rock na edição passada. 

Com tudo isso, cheguei até pensar, que se o Grito tivesse sido realizado no bairro dos Pimentas, ou em qualquer bairro periférico, por exemplo, talvez tivéssemos sido mais felizes. Sim, porque lá é onde há povão, gente que se mistura e tem curiosidade de saber o que rola em seu bairro. Não ficam escondidos em suas prisões domiciliares [que isso não seja interpretado de forma preconceituosa ou “rotular”]. Pensei também, que se eu tivesse sugerido a matéria sobre o Grito uma semana antes, na revista Weekend, talvez pudesse ter atraído mais pessoas.

Em suma, espero que não encarem tudo isso como um chororô pelo leite derramado, a intenção é de apenas pontuar os fatos. Mas, não nego que fiquei bem chateada com a falta de guarulhenses no evento. Não porque eu também ia tocar, mas porque mostra o quanto a arte é desvalorizada aqui. Sim, porque para os que não consideram rock'n'roll uma arte, ainda assim haviam outras intervenções artísticas programadas, como o teatro, artes plásticas e performance. 

Os guarulhenses precisam incentivar e reconhecer seus artistas. Acho bacana a Prefeitura trazer grandes músicos para tocar na cidade, mas não sem antes incentivar os seus. Por que tanta dificuldade para disponibilizar um local ou equipamentos descentes? Admiro muito o Projeto Clam, que mete a mão na massa e mesmo com todas as dificuldades se propõem a fazer um evento como o Grito Rock.

Só para resumir, naquele sábado, o Grito não pode ser de todo mundo, porque por volta das 18h o mundo desabou em água e das nove bandas que estavam programadas para Gritar, seis ficaram de fora, incluindo eu e as bandas Instinto Coletivo e a Carbônica, que fazem parte do coletivo Clam, e os caras da Poderoso Chefão, que se deslocaram de Marília e não puderam dar o seu show. Também não ocorreu nenhuma das intervenções artísticas.

Por isso, nesse desabafo, gostaria de soltar o Grito de toda essa galera que não foi ouvido por muita gente ou sufocado pela própria chuva. Humildemente, deixo aqui também o meu apelo: acreditem e prestigiem os talentos de nossa cidade.


Beijos e até qualquer hora,
Elís Lucas


6 comentários:

  1. Emocionate e realístico
    Vini Carbônica

    ResponderExcluir
  2. Parabéns pelo texto Elís
    Tirou também o meu grito da garganta
    Guarulhos talvez esteja perdido em um círculo vicioso
    O Público precisa valorizar a arte local, e a arte local precisa se valorizar
    Não podemos mais pensar como colônia ou cidadezinha...

    Will Carbônica

    ResponderExcluir
  3. Valeu pelos comentários, galera. Contem sempre conosco!

    ResponderExcluir