sábado, 20 de abril de 2013

QUEM REPRESENTA A MÚSICA?

Feliciano também não representa
Maradona e Caniggia
Marcos Feliciano, parlamentar-pastor-estrela sazonal e presidente persona non grata da CDHM (Comissão de Direitos Humanos e Minorias), da Câmara dos Deputados, não me representa. Não digo isso por causa da polêmica, agenda setting ou qualquer coisa que valha. Para começo de conversa, não votei nele. Não digo isso por ele ser evangélico, pois não tenho o menor motivo para tal e, de acordo com o artigo V da Constituição Federal, o livre exercício de culto é garantido a todo e qualquer indivíduo. Digo que ele não me representa por causa do fundamentalismo religioso e da incitação à intolerância, pouco importando a qual âmbito, presente em seu discurso. 

Ainda citando porcamente o documento máximo do que deveria ser a democracia no Brasil [chora na cama e engraxe seu coturno com suas lágrimas, Bolsonaro], todos os indivíduos têm direitos iguais, sem distinção alguma. Ou seja, o discurso religioso e sexualmente intolerante do dito-cujo citado na nareba de cera deste pseudo-texto não representa sequer a essência democrática. Isso não quer dizer que todos tenham de concordar com um único conceito - foi mals aí por falar novamente sobre a Constituição, mas esse documento de normas de conduta, comportamento e a porra toda prega a liberdade de expressão. Mas ridicularizar e reduzir a opinião alheia ao absurdo, com base apenas em julgamento de valor dúbio, para não dizer outra coisa, não rola. Podem ficar tranquilos, pois não entrarei em tratados sobre direitos humanos e afins - por ora, pelo menos. 

Sou corintiano, maloqueiro, sofredor, heterossexual, aprendiz de jornalista e, acima de tudo, ser humano. Além de Feliciano, muita coisa não me representa. Alessandro e Júlio César, lateral-direito e goleiro do Corinthians, não me representam [obs: nada contra as pessoas dos dois, mas dá calafrios vê-los em campo]. Marin, filhote da ditadura presidente da CBF, idem. Best sellers esdrúxulos, produtos da indústria cultural e o discurso pseudo-cult com intelecto de bar também. Frases feitas, clichês, roubalheiras, privatarias, mensalões e brigas na Libertadores não me representam, é claro.

Por outro, Chico Buarque, Tite, The Strokes [apesar dos últimos trabalhos], Quentin Tarantino, Gus Van Sant, Vladimir Herzog, Julian Assange, Martin Luther King, entre outros, me representam. Caetano Veloso, apesar de também ser falastrão e merecer ouvir algumas verdades do Adenor, idem. Repito: isso aqui não se trata de julgamento de valor religioso, a começar que a prática religiosa e a liberdade de culto são direitos invioláveis de todo e qualquer indivíduo.

Sem mais delongas e enrolação, a homofobia semidoentia de Feliciano o fez esquecer de que muitas das pessoas tidas como ~amaldiçoadas~ por ele e pelas felicianetes tornaram o mundo da música muito melhor. Exemplos não faltam e vamos a alguns deles, mesmo que em pílulas - até porque posts extensos demais enchem demais o saco:

* Elton John pode ser meio metido a estrela e não exatamente o cara mais sociável do mundo, mas já embalou trilhas sonoras de muitos casais por aí. Assume aí, Feliciano: você tentou dar ideia em algumas gurias ao som de Rocket Man, não negue.



* Robert Halford, frontman do Judas Priest, fez muita gente respeitar o metal. Mas o cara quebrou as regras do machismo "do mal" [sem trocadilhos] e saiu do armário. Não é pela orientação sexual que o cara tenha perdido o respeito, sejamos francos. E outra: tem de ser muito macho para sair do armário, na moral.


* Cássia Eller representou muita gente - inclusive a mim - na adolescência e, claro, continua a fazê-lo, mesmo após ter ido ao além. Seguramente, ela teria mandado algumas boas verdades a Feliciano se estivesse viva.



*Farrokh Bulsara. Bom, talvez nem a população equivalente à torcida do Quissamã (RJ) o conheça pelo nome. Tá, vamos simplificar um pouco as coisas: vocês manjam Freddie Mercury, né? Então, nenhum adjetivo consegue definir o que o cara foi para o Queen e para a música. E pouca gente fez uma música para  anunciar que saiu do armário tão foda quanto ele e a lendária banda, não? Nothing really matters, got it?



* Ney Matogrosso: não, o Secos & Molhados, banda da qual ele foi frontman, não serviu como inspiração/plágio para o Kiss. E essa lenda urbana já era, certo? Mesmo assim, o talento do tio é incontestável. Ah, são poucos os caras que conseguem manter o pique e a competência praticamente após quarenta anos de vida artística - no mainstream, pelo menos. Além de Matogrosso, só David Bowie, tio Macca e os decanos do Rolling Stones que podem se vangloriar disso.



Se for ficar enumerando todos(as) aqueles(as) que têm orientação sexual alheia ao que o senso comum prega, este post seria ao melhor estilo A História Sem Fim. É estranho deixar Cazuza, Renato Russo e muitos outros sem citações dignas de nota, mas o objetivo foi mostrar alguns dos jedis da história. Como diziam os caras dos Mamonas [que, Feliciano, não foram mortos por Deus], abra sua mente.

Beijundas,

Mau.

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