sábado, 1 de novembro de 2014

Um concerto pra desconcertar - Vitor Araújo

Vitor diante de seu gigante
Eram os meus últimos segundos diante do Facebook antes de sair de casa quando, de repente, saltou-me aos olhos um post do pianista Vitor Araújo, dizendo que na noite daquele mesmo dia (17|10), faria um show com entrada franca em São Paulo, na Biblioteca Mário de Andrade. É claro que eu não poderia perder. Afinal, Vitor toca música erudita como se fosse um grande astro do rock, já dizia o jornalista Eduardo Lemos.

No palco, apenas uma luz baixa, o teatro escuro. O público aguardava ansiosamente pelo pernambucano que, depois de cerca de dez minutos, subia ao palco pela lateral esquerda, pisando tão firme a ponto de ser ouvido por todos. E firmeza não era o que lhe cabia apenas nos pés. Suas mãos, que hora deslizavam tão suavemente sobre as teclas, também as açoitavam bravamente, com fúria, domínio e uma habilidade de nos abrir a boca. Encurvava-se em frente ao piano como se o reverenciasse.

Lá estava ele, camisa branca e calça jeans. De pouca idade, 24 anos, se não me engano, o que apresentava, quem nunca assistiu a um concerto ou nunca viu um show seu, não faz ideia do que perdeu até agora na vida. E afirmo isso sem pestanejar. A porta que ele nos abre com seu som, nos leva para outra dimensão. Impossível sair de seu concerto do mesmo jeito que entramos, nos desconcertamos.

Vitor e o quarteto de cordas
Diferentemente da primeira vez que o assisti, em 2010, no Teatro Padre Bento (em Guarulhos), neste show, Vitor se comunicou com o público através de um telão, estilo cinema mudo, saca? A única vez em que se ouviu sua voz foi nos vocais que fez durante algumas músicas. Vocais esses que nos descolam do chão, nos deixam meio atordoados, golpeados pela beleza das notas e seus timbres. Lembro-me de ter lido em uma de suas entrevistas, que ele se inspira em Thom Yorke, seu maior ídolo, para fazê-los. Mas, a novidade não foi só essa. Mais quatro músicos fizeram parte da mágica noite. Eu não me recordo de terem sido apresentados ao público, mas eram três violinistas e uma violoncentista. Foi impossível não fechar os olhos. A sensação era de estar levitando.

Entre o repertório, músicas do novo álbum “A/B”, além de uma composição de Heitor Villa Lobos e Paranoid Android, de Radiohead, uma das bandas favoritas do garoto prodígio. Com o velho rádio em mãos, o qual já usou em outras apresentações, ele suja a música (que gravava na pedaleira enquanto a tocava) com estações mal sintonizadas e mais uma vez nos desconcerta. Que loucura é essa? Nos perguntamos. Isso é Vitor Araújo, que na última música abandona o palco enquanto as últimas notas, gravadas na pedaleira, ressoam... Como se a própria música o absorvesse.

PS.: Foi bom poder abraçá-lo e agradecê-lo por dividir sua arte.

 *Vale ler aqui, o release do artista escrito pelo cantor e poeta Tibério Azul.
 
Até a próxima,
Elís Lucas

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